domingo, 14 de fevereiro de 2010

O tal Deus Africano...

Tinha um aspecto comum, desses tipos que passam por nós mil vezes e não os topamos.
Sentada na mesa do canto do Café Meskita, oiço um pequeno ruído que vem da porta. Não sei o que foi, mas sei o que vi. Entra um individuo com uma camisa colorida de alegria. Não fora o tecido, nunca teria visto este Deus africano, bonito dentu rostu. Era um rosto comprido. Emergiam daquela cabeça esculturais tentáculos negros que delimitavam uma testa perfeita. As sobrancelhas eram espessas e duas azeitonas escuras iluminavam toda a superficie daquele quadro perfeito. Não tinha o nariz pequeno, na verdade, era uma longa batatinha empinada, o que condizia na perfeiçao com os lábios carnudos que descobriam uma fileira de teclas de marfim polidas. Era um Deus Africano esculpido à mão.


Vera Cruz

A Gaveta

É terça feira e como sempre passo pela rua estreita.Vejo sr Antonio que me acena do lado oposto ao que sempre desço e decido atravessar para o saudar. Então rapaz, que fazes por aqui? Trocamos meia duzia de palavras e cumprimentos aos demais familiares e despedimo-nos. Continuo meu percurso. Na verdade estou meio chutando lata quando chuto uma gaveta. Uma gaveta? Meus olhos estavam fitos neste objecto. Uma gaveta prostrada no meio do passeio. Obviamente é estranho, olho para um lado, a seguir para outro procurando algo ou alguém a quem perguntar, porém nem viva alma. Detenho-me sobre a gaveta. Não há dúvida de que é de material nobre, para além de muito bem trabalhado. Os puxadores, feitos por um ferreiro fazem-me lembrar os que a minha avó tinha na cómoda do quarto de hóspedes. Por esta altura já vai longe a minha curiosidade, só tenho tempo para certificar-me de que não vem ninguém, para então explorá-la. Vejamos o que tem dentro: um par de óculos com uma perna só, um soutien cai cai número 36, um cinto de ligas tamanho 42, um livro de bolso de poemas e prosa e …hum cartas, cartas sem remetente, sem destinatário, muitas cartas. Mexo, remexo quando algo desperta ainda mais a minha atenção. Um pano de seda vermelho bordado a dourado com um papel tão fino quanto bem dobrado. Estou na via pública, isto é, propriedade pública e, sem me deter mais em pensamentos ou direitos de posse de terceiros ou quartos, num impulso desdobro o papel e vejo que tem algo escrito. Um recado? Um pedido? Dizia em letras gordas:
POR GENTILEZA, OLHE PARA CIMA!
Quem terá escrito estas linhas? Há quanto tempo?
Dou por mim com o pescoço esticado para cima, vejo uma senhora idosa que em silêncio me acena com um lenço branco. Sem pensar respondo ao aceno. A senhora com um sorriso, diria de paz, com uma vénia se despede e fecha a janela. E Eu? Eu sigo o meu caminho pela rua estreita como sempre faço todas as terças feiras.


Vera Cruz

O velório de Mambia

Tinha sido uma das fundadoras da pequena povoação de Stancha. Já passava dos setenta anos, no entanto, a sua vivacidade e o corpo rijo aparentavam menos de sessenta. Tinha sido famosa na juventude pela sua capacidade de participar, organizar festas e, sobretudo, mudar de namorado. Esta fama mudou por completo quando resolveu amigar-se com Djosa, por volta dos seus quarenta anos. Desde então, transformou-se naquilo que em Stancha se chamava de mulher séria, dedicada ao seu Djosa e de hábitos rotineiros e irrepreensíveis. Também ... não tinha outro remédio porque ganhava a vida como vidente e, para isso, tinha que ser muito respeitada. Se não, não seria procurada. Era uma questão de imagem e de credibilidade. Mambia sabia isso muito bem e era uma excelente gestora da sua imagem.
A sua melhor amiga, a comadre Tanha, que já vinha dos tempos da juventude, também não era uma pessoa qualquer em Stancha, porque era a dona da mercearia local que fornecia a casa de Mambia. Entre os diversos produtos de fornecimento diário não podia faltar aquele petrolinho devidamente aviado naquele candeeirinho de latão, trazido pela afilhada Biota que morava com Mambia.
A morte de Mambia apanhou Stancha de surpresa. Foi um alvoroço. Começou logo um vai-vem entre as suas muitas comadres e amigas. As crianças começaram logo a pensar na festa farta que ia haver. Já sabiam que só poderiam contar com os restos, mas, também sabiam que num velório como o da Mambia, até os restos tinham que ser fartos. Só os homens mantinham aquela postura muito masculina de homens de respeito, que não percebiam daquelas coisas. O que tinham a fazer era deixar trabalhar as mulheres porque essas, sim, elas é que percebiam do assunto. Quando muito, tinham que garantir aquele groguinho que não podia faltar num velório a sério e de respeito, como devia ser o caso, e ter a certeza que o compadre Djosa ia mandar matar o porco que tinha no quintal.
Em poucos minutos, toda a povoação já tinha conhecimento do triste acontecimento. Todas as amigas acorreram logo a sua casa para organizar o velório e o funeral da falecida. Tanha fechou a loja e assumiu o comando das operações. A medida mais urgente era garantir a presença das carpideiras e avisar o senhor padre para que a missa não fosse muito improvisada e a igreja devidamente decorada. Entre as mais faladeiras da povoação já constava, à boca pequena, que agora é que se ia conhecer os segredos de Mambia.
Nuna e Chica de Joana, as duas carpideiras mais conhecidas, foram logo vestir a preceito, com as suas saias pretas e compridas, lenço na cabeça a condizer e o xaile preto amarrado à cintura. Era necessário criar as necessárias condições para a competição entre os choros de Nuna e Chica de Joana, com os seus longos recados para os amigos e familiares já falecidos, até porque, tão depressa não iriam ter mensageiro de tamanha confiança. Não podiam faltar as lamentações pela perda da falecida, apesar de ela ter sido tão ingrata, a ponto de não avisar que ia fazer essa viagem tão longa.
Tanha, como a mais íntima das amigas, assumiu o comando das operações, distribuiu tarefas e organizou a logística do velório. Ela garantiria o café e o cuscus; Djosa ofereceu logo o porco que estavam a criar no quintalzinho da casa; Nuna ficaria incumbida dos pastéis de milho e o groguinho ficou por conta do compadre Manel Juquim, um reconhecido especialista do assunto.
O choro já tinha chegado num bom ponto porque já se tinha conseguido três horas seguidas só a mandar recados e a fazer lamentações. A competição entre as carpideiras já estava a atingir o clímax. A assistência continuava com uma atitude muito própria de quem já estava habituada a tudo aquilo e a lembrar que a compostura era indispensável.
Por pouco não se perdeu a seriedade própria de momento tão sentido quando Juninha arrancou bruscamente do seu canto, e num lamento treinado - de tanto lamentar a vida vivida e as mortes assistidas -, pediu então a Mambia para explicar ao seu Junzim que a sua campa era a mais pelada do cemitério mas não por falta de cuidado ou de carinho. Para ter muito cuidado com as intrigas que poderiam ser feitas através dos recados de gente invejosa. Não era falta de saudade nem desmazelo da sua parte. Pelo contrário, foi ela própria quem decidiu. Em vez de pôr água, haveria de fazer um «xixizinho» todos os dias em cima da campa porque cada qual chora por onde tem mais falta.
O velório estava muito criativo mas as papiadeiras da povoação ainda não tinham ouvido nada que pudesse parecer com um segredo daquela que foi a grande referência dos bons costumes da povoação. As carpideiras já tinham demonstrado a sua boa «perfomance» e já não se esperavam novidades. Parecia que já não havia recados a dar. Até Tanha, que não era muito dada a essas coisas, já tinha apresentado a sua guisa uma vez. Por isso, ninguém estava à espera que se voltasse a levantar uma grande guisa de pedido de perdão que, de início, ninguém percebeu, mas, aos poucos, quer porque se foi tornando progressivamente audível, quer porque não se esperava que fosse logo ela, a melhor amiga, a trair os segredos da Mambia. À medida que o choro foi prosseguindo, as palavras foram-se tornando mais nítidas e Tanha foi perdendo o seu ar de general na frente da batalha. Quando o choro deu lugar ao lamento, com palavras e frases articuladas, é que se começou a perceber que se tratava de uma dívida que foi cobrada acima do valor da conta porque afinal, a qualidade daquele «pitrolim de trapiche», não era tão elevada como a conta que tinha cobrado.
Os esforços de Djosa não foram suficientes para calar o falatório que se seguiu à volta do tal «pitrolim de trapiche» porque ninguém queria aceitar que Mambia, vidente séria e respeitada, poderia gostar do seu groguinho.
Chegado o momento incontornável da avaliação das carpideiras, não havia comadre ou compadre que não fosse da opinião que a melhor guisa tinha sido da Tanha mas ninguém queria enfrentar o viúvo que lá foi dizendo que já desconfiava que a comadre Tanha tinha mas é inveja do respeito que a Mambia tinha em Stancha.


Carlos Reis

O Anúncio

“Para reabilitação concurso da Praça Alexandre Albuquerque com Silva Eunice a engenheira.”
Este foi o anúncio que o Secretário Municipal, o cidadão Zeca Pimpim, mandou publicar no mais lido jornal da ilha.
O que teria passado pela cabeça daquele respeitável cidadão, Nho Zéca Pimpim, sobrinho neto de Nho Padre Feliciano e de D. Maria da Purificação Soares de Oliveira, professora de catequese?
Nha Bitina do Sr. Cristovão Alves Ferreira disse que a coisa se dava ao facto das “fuscas” valentes que Zéca Pimpim tomava secretamente na companhia dos seus pombos, no terraço da casa. Nho Zeca Pimpim afogava as suas mágoas de ser filho sem mãe conhecida e do Presidente da Câmara, Sr. Pedro Maria Soares de Oliveira. Registar José Pirino Soares de Oliveira tinha sido às custas de muito pedir do Nho Padre Feliciano e do medo do sobrinho em enfrentar essa acusação diante do grande pai, quando este o chamasse. Para além disso, não valeria a pena manchar a reputação do Sr. Presidente com questões de paternidade, e o acto de reconhecimento até podia ser entendido como um gesto de piedade para com aquele menino de cabelo espetado a quem lhe tinha dado o apôdo de “Pimpim”.
D. Porquéria, vendedora do queijo de cabra mais afamado da cidade, tinha outra versão: Pimpim bebia no terraço com os pombos porque na sua juventude não pudera casar com Miluzinha, filha de Nha Cuzinha, prostituta de Lombe. Nho Padre Feliciano e D. Maria da Purificação tinham pago a viagem de Milúzinha para longe do rapaz. Zéca Pimpim desconfiava que os tios tinham dedo nessa história mas não tinha como provar. A versão oficial era de que Miluzinha tinha fugido num barco a vapor com um turco ou holandês, dependendo da malícia do relator.
Djosa Cagdim estivador, nas suas noites de porto, escancarava a boca e reclamava a paternidade de Zéca Pimpim; nunca ninguém lhe dava crédito, nem de dinheiro nem de confiança. Djosa Cagdim não passava de um estivador filho de ninguém que se embebedava sempre que havia vapor novo no porto e para além disso falava trocado. Não se sabe se o falar trocado lhe vinha do mau grogue que sorvia como água, nas noites de navio novo no porto, ou de algum problema de cabeça.
Zéca Pimpim era sempre muito calado, característica que Nho padre atribuia à inteligência sisuda do sobrinho. Em pequeno, uns meses depois de passar a morar em casa do Presidente, Nha Maria da Purificação tinha notado que o sobrinho não falava direito, mas como era filho de Sua Excia. O Sr. Presidente da Câmara, cedo Nho padre Feliciano tomara providências para que o sobrinho tomasse aulas em privado, com o seu afilhado e ajudante de missa, Sigesmundo.
Zéca Pimpim crescera entre a igreja, a salinha da sacristia, a varanda interna da sala de costura de D. Maria, na casa grande, os chocolates “Cut burry”, que a tia lhe dava de cada vez que conseguia dizer uma palavra com mais de cinco sílabas, absorvidas directamente dos livros de Eça de Queirós que D. Maria não assumia que consumia, só o Primo Basílio lera mais de sete vezes e mais de vinte as passagens que descreviam os encontros proibidos de Basílio e Luísa. Na verdade se procurarmos um culpado por Zéca Pimpim ter-se apaixonado por Milúzinha, encontrá-lo-iamos naquela varanda da casa grande onde, entre o livro de rezas e os de Eça, Zéca Pimpim passava as tardes. Esta era a versão da criada Joaninha “de oi pelód”. Esta versão de “Joaninha de oi pelód” tem muito que se lhe diga, pois a criada não casara porque D. Maria fez de tudo para afastar o pretendentes, que na verdade não eram muitos, já que para além de “oi pelód”, Joaninha coxeava de uma perna e com os seus trinta anos tinha outras peladas.
Nunca se soube a verdade verdadeira da “desfala” de Zeca Pimpim, o certo é que José Pirino Soares de Oliveira desaparecera dois dias depois daquele maldito anúncio. Uns viram-no no porto a embarcar num navio de carga para a Holanda, outros viam-no acenar do cume de Monte Clara, no dia dos mortos, e outros cantam histórias de Zéca Pimpim em bares de estivadores, que Cagdim deixara de frequentar por falta de ânimo.
Verdade verdadinha só mesmo o facto de no dia do fatídico anúncio, D. Maria ter sido tomada por um ataque de gases; Nho padre estava numa extrema-unção lá para os lados de S. Paulo e Sigesmundo lia nas entrelinhas de Joconda o pecado da carne.
Naquele dia ninguém pôde valer à escrita de Zéca Pimpim.


Vanda Cullen

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A vida de um copo. Na primeira pessoa, claro está!

Ainda bem que estou acondicionado

Apesar da pressa, N, por segurança, envolveu-me em jornais velhos para que a minha família e eu sobrevivessemos a esta viagem.

Não percebi bem quando N me escolheu na promoção do Bráz & Bráz. Falava freneticamente de ideias, viagem, despachante, alfândega... falava de vida nova.

O que sei é que estou cansado. Mesmo sem ser estreado já me sinto velho, deve ser influência destes jornais.

Pelas minhas contas N já devia estar a usar-me, juntamente com a minha família, como parte integrante dos desafios sonhados.

Epa.. Estão a abrir o caixote.

Sim. Estou aqui. Quero respirar e preciso de Líquidos.

Preciso de ser útil.

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Mal sabia que depois de ter desembarcado no porto da Praia iria, depois de umas utilizações fortuitas aqui e ali, ser copo de Bar.

Não é mau pois tive a oportunidade de sentir os lábios mais cobiçados da cidade. Para além de lábios sedutores senti lábios sós, falsos, sonhadores,velhos, aventureiros, tristes, felizes.

É uma honra conhecer os segredos da cidade apenas com um toque. O toque dos lábios.

Mas foi curta a minha estadia. Vi muitos familiares partirem e eu, apesar de tudo, safei-me. Um lábio sonhador, inteligente, belo e amigo levou-me com ele. Eu sei, fui roubado, mas N já estava habituado. Havia muitos anos que N já desistira de se afeiçoar à minha raça: copo Bráz & Bráz.

A minha estadia com o assaltante de copos foi curta, deu para trocar ideias com outros copos, de outros bares e discotecas da cidade. Descobrimos que grande parte dos lábios eram promíscuos pois saltavam de bar em bar a saborear tantos copos quanto possível: a deixar confidências em nós.

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De roubado fui oferecido.

Hoje encontro-me quieto, cheio de segredos, guardado num armário de madeira. Sou usado pontualmente e já só bebo vinho tinto.

Embora reconheça os copos que visitam a minha actual habitação, raramente sou utilizado.

Creio já estar reformado.


Samira Pereira


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Tubo de baixo calibre, metálico e oco

Pensa-se ter bravura suficiente para enfrentar este objecto.
Vê-lo ali, adormecido no seu uniforme pastél, solteiro e em paz com a vida. Podia bem ser mais um objecto desses insignificantes do nosso quotidiano saudável. Nunca pensamos nele, a não ser que a visita seja de urgência ou faça parte de um protocolo qualquer.
Às vezes, dependendo das circunstâncias, não ficamos ansiosos nem amedrontados até o vermos. Acompanhado das gémeas bêbedas; da garrafinha de design “Logan”, não fosse de plástico; um elástico cor de cáca de bébé, desses que podemos encontrar num gavetão velho de escritório; a borboletinha inofensiva pronta a acasalar com o nosso objecto, ou a amante deste, de vidro ou de plástico consoante o orçamento.
Não parece haver qualquer relação de intimidade entre este objecto e os acompanhantes. Dir-se-ia que o elástico, apesar de necessário, não se revê naquele batalhão; as gémeas roliças de tão bêbedas apenas estão presentes; a garrafinha de logan preguiçosa; a palmadinha erótica (a cereja em cima do bolo) e um parzinho de mãos confiantes.
Um bom parzinho de mãos, isso sim! Dessas indiferentes às mudança de humor ou aos desamores e frustações do dia-a-dia. A forma engana. Se são volumosas e carnudas sente-se um frio na barriga e não importa o sorriso rasgado - aquelas mãos são de carrasco! Outras vezes as mãos são delicadas, tão delicadas que nos fazem suspeitar da sua destreza na hora da investida.
O elástico, que é quem dá o toque de partida, deve apertar sem estrangular; dois deditos devem localizar a mina; a mais bêbeda e menos peneirenta das gémeas deve varrer o campo de batalha e o objecto sem uniforme e de papillon deve mergulhar no bunker inundado e aí permanecer até nova ordem..
Se for no pulso, é certo e sabido que a coisa não vai resultar. O pulso não é de confiança.
Sem dúvida que o ponto de intercepção entre o braço e o antebraço é o melhor sítio para uma investida que não precisa de grandes precauções e aparatos; mas há quem se deixe ludibriar pelos longos e atraentes túneis distraídos do pulso e aí a situação complica-se: instala-se o pânico, as lágrimas brotam sem parar, lamentamos não ter ido às aulas de ioga, mas já não há nada a fazer. Outro objecto ou o mesmo voltará impassível aos nossos lamentos.
A minha táctica nestas situações é distrair-me com o meu próprio grito, lonnngo e lamuriento, na presença, claro está, de alguém da minha absoluta confiança, um amigo desses que esteja à altura das circunstâncias: não enjoe, não tenha mau hálito, se sinta à vontade com gritos e palavrões e que sobretudo tenha memória curta para estas coisas.
“Então! Com medo dela, tão pequenininha, ai, mas que vergonha! Uma menina do seu tamanho, o que é que as pessoas vão pensar?”
Mas quem é que está preocupado com aquilo que os outros vão pensar numa hora dessas? Para já, eu já não sou eu, está visto que não estou na posse das minhas vergonhas.
Abro a garganta e escancaro o meu grito de revolta. “Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Porra que esta merda dói! Eu bem lhe disse que tinha que ter a certeza antes de atacar! “
Pronto está feito! Saio desta batalha com um pulso inchado, uma cara de infeliz que até dá dó, uma raiva ao mundo e uma certeza: quer sejam fininhas, pequenininhas, descartáveis ou esterilizadas, com ou sem buterfly, de plástico ou de metal, coloridas ou apenas brancas, sózinhas ou acompanhadas, a porra de uma agulha pode abalar o mundo de qualquer um, como eu.

Vanda Cullen

Segunda Edição


A Escrita Criativa na Fundação Amílcar Cabral já vai na segunda edição. Novas caras, novos motivos, o mesmo sorriso expectante do grupo da primeira edição, a mesma dedicação às palavras.


Abrem-se novamente as cortinas, impera a reinvenção laboriosa da ideia. Leia, aprecie e comente os nossos textos. Numa palavra, Criative-se!